Check-up

Este ano pretendo cumprir rigorosamente a resolução que tomei no fim do ano passado: não mais tomar resoluções de ano-novo. Elas são promessas que fazemos à nossa consciência em que nem a consciência acredita mais.
A minha já estava reagindo com bocejos a cada juramento que eu fazia para o ano-novo.
— Vou começar uma dieta. Séria, desta vez.
— Sei, sei.
— Vou ser tolerante, justo, sóbrio, equilibrado... e arrumar meus livros.
— Tudo bem.
— Fazer exercícios diários. Usar fio dental. Reler os clássicos. Não tudo ao mesmo tempo, claro.
— Certo, certo.
Mesmo com ar de enfado, minha consciência não deixa de se submeter ao exame anual que faço nela, sempre nos últimos dias de dezembro. Uma espécie de check-up moral. Seu estado geral é bom. Não teve grandes provações no ano passado. Fiz algumas coisas que não devia, não fiz outras que devia, nada grave. Vamos poder continuar nos encarando — principalmente agora que eliminamos este ridículo ritual das resoluções de fim de ano da nossa relação. O homem maduro é o que desiste da virtude impossível para não perder a possível.


Luiz Fernando Veríssimo

Force Jogos

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